sábado, 29 de novembro de 2008

O vírus como problema filosófico

Fotomicrografia eletrônica de um vírus (HPV)



No meu último texto discuti sobre a questão mãe da biologia, o que é a vida. Depois de muito pensar cheguei a conclusão que talvez devemos procurar responder a essa questão de maneira indireta. E atualmente nada se correlaciona melhor com isso do que a discussão sobre a natureza dos vírus. Mas você sabe o que é um vírus?
Vírus são parasitas obrigatórios das células, pois dependem do maquinário celular para sua replicação. Um vírus não tem autonomia bioquímica, ou seja, por sí só eles não conseguem sobreviver, pois não possuem atividade metabólica própria para a produção de energia e sua utilização na sua replicação. Dependem de células hospedeiras onde encontram a matériaprima bruta para a produção de energia necessária a produção de ácidos nucléicos, proteínas, assim como todas as outras atividades bioquímicas que lhes permitem se multiplicar e se propagar. Levando em questão isso, alem de sua simplicidade (uma molécula de DNA ou RNA envolto por um capsídeo protéico), somos levados a acreditar que os vírus são seres parasitas não vivos de sistemas metabólicos vivos.
Um ser vivo deve possuir, de acordo com a maioria dos biólogos, capacidade replicativa, a já discutida autonomia bioquímica e um estado de existência delimitado pelo nascimento e pela morte . Mas até onde isso se aplica aos vírus? Se levarmos em conta sua estrutura e função, os veríamos como não mais que um aglomerado químico. Mas os vírus estão longe de serem completamente inativos. Quando entram em uma célula perdem seu invólucro, descobrem seus genes e levam o sistema de replicação da célula hospedeira a reproduzir o seu DNA ou RNA viral. Em seguida, a célula infectada começa a produzir proteínas virais a partir das instruções contidas no ácido nucléico do vírus. As partes do vírus recentemente criadas se reúnem então para formar novos vírus, que podem por sua vez infectar outras células: a infecção se propaga. Para efeito de comparação, o que podemos dizer de uma semente? Ela não é viva mas apresenta um potencial para tal. Será que os vírus se encaixariam melhor nesse patamar? Já para alguns cientistas os vírus vivem "uma espécie de vida por procuração".
Essas questões levam a outra dúvida. Seria o vírus um problema filosófico? O filósofo Pedro Gomes Neto me respondeu essa pergunta por e-mail. "Quem sabe o problema não seja considerar ou não o vírus como vida, mas o que se entende por vida. Em filosofia, a vida se torna problema na modernidade. Antes, a morte era a questão principal. Na modernidade a vida se torna problema e no mundo contemporâneo, vida e morte, conjuntamente, é posta em questão. Nesse sentido, qualquer manifestação que se relacione com a manutenção da vida ou sua morte pode ser correlato de debate com a problemática vida. Nesse co-relação, vírus pode ser considerado problema filosófico."
Fica evidente através dos séculos que a dúvida sobre o que é a vida persiste por diferentes aspectos. Com a descoberta dos vírus criou-se mais um ramo na gigantesca árvore de debates sobre a vida. Com os avanços na biologia molecular esperamos responder muitas questões sobre a real natureza dos vírus em breve, pra quem sabe um dia, entender o que é esse fenômeno chamado VIDA!

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